O TRABALHO QUE O MILHO DÁ
JANEIRO - ESTRUMAR
FEVEREIRO - LAVRAR
Avistar a torre sineira da Igreja de Barranco do Velho era sinal que a Serra do Caldeirão estava a chegar ao fim, e a Estrada Nacional 2 prometia mais à frente a recompensa para tantas e tantas curvas. Olhavamos de soslaio “A Ti Bia”, e ala! que o mar de Quarteira esperava por nós. Mas, a dignidade daquela torre sineira sempre me desafiou.
Na semana passada, o desafio de décadas venceu-me ... fiz o percurso inverso, mar-serra, determinado a finalmente descobrir os segredos que o Barranco do Velho escondia. A desilusão esperava-me. A Ti Bia, rejuvenescida no exterior, é daqueles restaurantes que não merece duas linhas de texto.
Mas, a mágoa maior foi verificar que o conjunto arquitetónico, constituido pela igreja e duas bonitas casas posicionadas a sul, está hoje abandonado. Tanto igreja como casas têm a assinatura de um nome relevante na arquitectura do Estado Novo – arqº Veloso Reis Camelo. É inaceitável a delapidação deste património (provàvelmente datado de final da década de 30, início de 40 – nada consegui saber com exactidão sobre esta obra), que à guarda do Estado (será dos Serviços Florestais, Ministério da Agricultura?), só poderá ter como destino a ruína. O relativo isolamento poderá adiar a chegada do vandalismo. Mas, não a destruição a prazo.
Abandonar este património, roubá-lo à fruição dos cidadãos, vergá-lo à inclemência do tempo, é apoucar-mos a nossa identidade e afundar-mos inexoràvelmente na indigência cultural e material.