quinta-feira, 23 de setembro de 2010

MANUEL TAVARES (1911 - 1974)


O TRABALHO QUE O MILHO DÁ

Aguarelista português, com uma produção prolífica, foi na expressão dos seus contemporâneos, uma figura paradigmática. Terá produzido milhares de aguarelas, grande parte retratando a sua zona de naturalidade - Aveiro - fixando em manchas subtis a labuta de camponeses e pescadores, enquadrados pelos rios e planícies portuguesas. 
Alguns evocam a venda de aguarelas nos Restauradores (Lisboa) e a visita sem desfalecimento a consultórios de médicos e advogados, comerciantes e industriais, tentando vender as muitas obras que ia produzindo com aparente facilidade. Se a venda não corria de feição, e a receita era magra, poupava nas tintas e nos papéis, mas não renunciava. 
Todos os anos, dezenas de aguarelas de Manuel Tavares, surgem à venda nas principais casas leiloeiras portuguesas. Continua a ter colecionadores fiéis. 
O que trago hoje é um trabalho muito curioso a que, aliás, se dedicaram muitas figuras das artes plásticas nos anos 40 e 50 : a realização de calendários para oferta na época festiva.
As aguarelas de Manuel Tavares subordinadas ao tema "O TRABALHO QUE O MILHO DÁ" foi encomenda da Empresa Fabril do Norte e estes trabalhos estão datados de 1944.

JANEIRO - ESTRUMAR


FEVEREIRO - LAVRAR


MARÇO - SEMEAR

ABRIL - SACHAR

MAIO - REGAR

JUNHO -COLHÊR

JULHO - DESFOLHAR

AGOSTO - MALHAR

SETEMBRO - LIMPAR

OUTUBRO - MOER

NOVEMBRO - COSER

DEZEMBRO
ATÉ QUE ENFIM ... O PÃO



quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Arqº VELOSO REIS CAMELO (1899 - 1985)



Avistar a torre sineira da Igreja de Barranco do Velho era sinal que a Serra do Caldeirão estava a chegar ao fim, e a Estrada Nacional 2 prometia mais à frente a recompensa para tantas e tantas curvas.  Olhavamos de soslaio “A Ti Bia”, e ala! que o mar de Quarteira  esperava por nós.  Mas, a dignidade daquela torre sineira sempre me desafiou. 



Na semana passada, o desafio de décadas venceu-me ... fiz o percurso inverso, mar-serra, determinado a finalmente descobrir os segredos que o Barranco do Velho escondia.  A desilusão esperava-me.  A Ti Bia, rejuvenescida no exterior, é daqueles restaurantes que não merece duas linhas de texto.



Mas, a mágoa maior foi verificar que o conjunto arquitetónico, constituido pela igreja e duas bonitas casas posicionadas a sul, está hoje abandonado.  Tanto igreja como casas têm a assinatura de um nome relevante na arquitectura do Estado Novo – arqº Veloso Reis Camelo.  É inaceitável a delapidação deste património (provàvelmente datado de final da década de 30, início de 40 – nada consegui saber com exactidão sobre esta obra), que à guarda do Estado (será dos Serviços Florestais, Ministério da Agricultura?), só poderá ter como destino a ruína. O relativo isolamento poderá adiar a chegada do vandalismo.  Mas, não a destruição a prazo.



Abandonar este património, roubá-lo à fruição dos cidadãos, vergá-lo à inclemência do tempo, é apoucar-mos a nossa identidade e afundar-mos inexoràvelmente na indigência cultural e material.